14

February

2018

Correlação dos níveis séricos de estradiol com sucesso em Fertilização in vitro

‍Alguns fatores correlacionam positivamente com o sucesso na FIV: a espessura endometrial e número de oócitos recuperados, estes fatores estabelecem uma correlação direta com o nível sérico de estradiol (1).

Introdução

Alguns fatores correlacionam positivamente com o sucesso na FIV: a espessura endometrial e número de oócitos recuperados, estes fatores estabelecem uma correlação direta com o nível sérico de estradiol (1). Os níveis de estradiol no quarto dia do ciclo predizem o sucesso da gravidez. Em alguns estudos as taxas de gestação com níveis de estradiol no quarto dia > 75 pg/ ml foram 42,3% diferindo daquelas com níveis de estradiol <75 pg/ml de 9,1%. O número de oócitos recuperados e o número de embriões para transferência também diferiram significativamente (2). Níveis mais baixos de E2 associados a folículos disfuncionais, que luteinizam mal quando exposto ao trigger, oócitos derivados de tais folículos geralmente têm baixa taxa de fertilização, concomitantemente verificou-se que níveis elevados de E2 no trigger estão associados com diminuição da receptividade endometrial sem afetar a qualidade embrionária (3). Alguns estudos avaliaram o nível de E2 sérico no dia da administração do HCG e o número de oócitos recuperado definindo uma relação estradiol\ oócito recuperado (EOR) um indicador confiável para o sucesso da FIV (4). Comparando ciclos naturais com os ciclos de estimulação ovariana encontraram maior incidência de dissincronia entre o endométrio e folículos nos ciclos de estimulação ovariana. Há evidências de uma redução nos receptores nucleares de progesterona e estrogênio a nível glandular e estroma endometrial após estimulação ovariana, modificando a expressão gênica endometrial e dos receptores proteicos afetando a janela de receptividade (5). A análise gênica e de proteínas do endométrio receptivo versus o não receptivo mostrou um repertório proteômico diferente durante a janela de implantação quando exposto a níveis séricos elevados de estradiol durante o ciclo de estimulação ovariana. O impacto da alta do E2 sérico para prever o resultado de FIV tem sido assunto de debate, deve-se obter uma evidência clara sobre a identificação de novos biomarcadores endometriais afetados pelas concentrações de estradiol, sendo relativamente inexplorados relacionados diretamente à implantação embrionária (6,7). Às análises sistemáticas fornecem uma base para a compreensão de que ocorrem mudanças estrogênio-dependentes em perfis genéticos e proteicos do compartimento endometrial, algumas proteínas relacionadas diretamente à adesão embrionária e receptividade uterina sugerindo obter um nível de estrogênio ideal que poderia manter altas taxas de gravidez e provável endométrio receptivo.

Objetivo

Avaliar a correlação existente entre níveis séricos de estradiol com qualidade oocitária, qualidade embrionária, taxa de implantação e expressão gênica e proteica endometrial em mulheres submetidas a ciclos de estimulação em reprodução assistida.

Métodos

Trata-se de uma revisão de estudos na base Medline, por intermédio do Pubmed e Cochrane.

Resultados

Algumas pesquisas sugerem que elevados níveis de E2 em doadoras não foram relacionados com o resultado da gravidez em ciclos de doação de oócitos. Evidenciando que níveis elevados de E2 no momento do trigger não comprometem a qualidade dos oócitos ou desenvolvimento embrionário, mas podem diminuir e alterar a receptividade endometrial. A exposição a altos níveis séricos no início da fase folicular está relacionada a uma menor chance de gravidez e menor resultado na FIV (8). Relataram ainda que a exposição a picos de E2 sérico na fase lútea precoce poderiam levar a um deslocamento do tempo da janela de implantação. Sugerindo um valor ótimo de E2 no momento do trigger para conseguir uma gravidez bem sucedida. Este valor ideal seria dependente da idade: 3000-4000 pg /ml para mulheres <38 anos e 2000-3000 pg /ml para mulheres > 38 anos (7). Definindo a razão estradiol sérico\ oócitos recuperados (EOR) como preditor de sucesso, resultado de uma análise de dados de 9000 ciclos de FIV na República da Irlanda (4). Durante o intervalo de estudo, 9109 captações de oócitos foram realizadas para 5499 pacientes com taxas clínicas de gravidez maiores nos pacientes com EOR de 250-750 e diminuindo á medida que essa proporção aumentou, independente da idade do paciente. Foi encontrada uma correlação significativa com as taxas de fertilização, taxas de clivagem ou número de embriões de boa qualidade em função da EOR. Encontrou na relação (EOR) um indicador confiável para o sucesso da FIV (4). Os níveis de E2 da fase folicular precoce também foram usados para prever o resultado dos ciclos de estímulo ovariano de modo que os níveis séricos de E2 <100 pg / ml parecem ter resultados piores do que aqueles > 100. Os níveis de E2 também modulam o desenvolvimento do endométrio e consequentemente a receptividade endometrial, são vários genes envolvidos na implantação embrionária sendo o mais citado o MFG8 que manifesta seu receptor a Integrina αβ3, o fator inibitório leucêmico (LIF), C3, plasminogênio, cininogênio-1 , sendo os dois primeiros citados marcadores proteicos celulares endometriais bem caracterizados e candidatos a biomarcadores para receptividade endometrial nos seres humanos(8). A expressão desses marcadores no endométrio depende do ciclo menstrual e a expressão máxima é observada na fase lútea média do ciclo menstrual, coincidindo com o tempo de implantação (5,8). Verificou-se que as expressões de Integrina e do LIF foram significativamente reduzidas no endométrio de mulheres inférteis. O LIF é a primeira citocina identificada e envolvida no desenvolvimento embrionário e implantação. Segundo estudos recentes observaram efeito do E2 em ciclos de estímulo ovariano sobre a dinâmica do proteoma do endométrio. Esses achados são importantes para futuros estudos com as proteínas identificadas á nível endometrial influenciando na implantação embrionária, alteradas com as concentrações levadas de E2(8). Em resumo, as revisões sistemáticas fornecem a base para a compreensão de mudanças estrogênio-dependente nos perfis de proteínas do compartimento endometrial, algumas dessas proteínas relevantes à receptividade uterina e sugerem que ao atingir uma dosagem de E2 sérico ideal nos ciclos de FIV poderia manter altas taxas de gravidez com endométrio receptivo (8). No entanto, não existe evidencia científica clara sobre o assunto.

Conclusão

As evidências atuais sugerem que a relação estradiol\oócito recuperado (EOR) seria útil na previsão das taxas de sucesso em um ciclo de FIV. Entretanto, alguns estudos sugerem que elevados níveis de E2 sérico não comprometem a qualidade dos oócitos ou desenvolvimento embrionário, mas podem diminuir a receptividade endometrial. Níveis de estradiol alto induziriam a mudanças no proteoma endometrial, ou seja, nas proteínas que interferem na receptividade endometrial dessas mulheres no momento da implantação. Dessa forma a dosagem sérica do E2, poderia ser considerada uma ferramenta acessória para prever o sucesso do ciclo de FIV.

Referências bibliográficas

1- Joo SB, Park HE et al.Serum estradiol levels during Controlled Ovarian hyperstimulation influence the pregnancy outcome in vitro fertilization in a concentration- dependent manner. Fertil Steril, 2010; 93:442-446.

2- Phelps JY, Levine A et al. Day 4 estradiol levels predict pregnancy success in women undergoing controlled ovarian hyperstimulation for IVF. Fertil Steril, 1998; 69:1015-1019.

3- Bianco C et al. Effect of estradiol in oocyte development. Int J Gynecology Obstetric, 2009; 104:230- 232

4- Vaughan AD, Harit C et al. Serum estradiol: oocyte as predictor ratio of reproductive outcome: an analysis of data from > 9000 IVF cycles in the Republic of Ireland. J Assisted Reprod Genetic, 2016; 33: 481-488.

5- Chen XD, Xiao S et al. Effects ovarian stimulation on endometrial integrin B3, and leukemia inhibitory factor expression in the perimplantation. Fertil Steril, 2008; 89: 1357-1363.

6- Imudi A, Goldman H et al.The impact of supraphysiologic serum estradiol on per- implantation embryo development and early pregnancy outcome following in IVF cyclos. J Assisted Reprod Genetic, 2014; 31:65-71.

7- Fatemeh F, Allizera SM et al. Association between serum estradiol level on the day of HCG administration and IVF-ICSI outcome. The J Obstetric Gynecol of India, 2016; 66:170-173.

8- Ullah K, Rahman TU et al.Serum estradiol levels controlled ovarian stimulation directly affect endometrium. J Molecul Endocrinol, 2017; 59: 105-119.

Publicado por
Daniela Fink Hassan Bassalobre

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