A integridade do DNA do espermatozóide é um importante fator para o desenvolvimento do embrião. A fragmentação do DNA espermático (TFDna) pode ser induzida durante a remodelação da cromatina na espermiogênese. Os mecanismos que podem levar a essa perda de integridade do DNA espermático são: substituição de proteínas histonas por protamina, apoptose defeituosa, excesso de espécies reativas de oxigênio, atividade das nucleases endógenas (endonucleases), toxinas ambientais e tratamentos gonatotóxicos como a radio e quimioterapia.
No entanto, as evidências na literatura não são uniformes, são ainda insuficientes. Existem discrepâncias entre os estudos publicados sobre o impacto da TFDna espermático e a qualidade do embrião.
O que diz a literatura?
- Alvarez Sedó et al. observaram que o teste da Fragmentação do DNA espermático foi negativamente associado com as taxas de blastulação e gravidez.
- Sun et al. relataram que não há associação com a aneuploidia de blastocisto e grau morfológico.
- Zheng et al. descobriram que a Fragmentação do DNA espermático teve um efeito negativo sobre a qualidade do embrião em clivagem e as taxas de formação de blastocisto.
- Kim, G. Y. relatou que a Fragmentação do DNA espermático está associada à diminuição da taxa de fertilização, qualidade do embrião e gravidez.
- Não há evidências suficientes sobre o papel da Fragmentação do DNA espermático em parâmetros morfocinéticos no desenvolvimento de embriões (Nikolova et al., 2020).
- Antonouli et al. relataram que a Fragmentação do DNA espermático não afetou significativamente o desenvolvimento embrionário ou as taxas de gravidez em pacientes ICSI com oócitos doados.
Em resumo, o efeito da Fragmentação do DNA espermático sobre o desenvolvimento embrionário, implantação e taxas de gravidez é controverso para FIV / ICSI.
Para tentar responder estas questões acima fizemos uma revisão das últimas evidências na literatura:
- Um estudo retrospectivo Coreano de 02.2019 avaliou 53 ciclos FIV/ICSI. Neste estudo concluíram que níveis elevados de TFD podem influenciar o desenvolvimento inicial do embrião até o estágio de 4 células. A TFD pode ativar vias de reparo de DNA e o desenvolvimento do embrião pode ser atrasado, resultando em embriões de baixa qualidade. Pontos fortes deste estudo: utilizou apenas normorespondedoras e limitações: foi um estudo de natureza retrospectiva e pequeno tamanho da amostra.
- Um estudo brasileiro de coorte, publicado na revista Fertility Sterility em junho de 2019, avaliou 475 ciclos de ICSI com resultados significativos para uma melhor qualidade do blastocisto e melhores taxas de implantação para o grupo com fragmentação do DNA menor do que 20%.
- Um estudo Chinês de 2020, retrospectivo com 2067 ciclos não demonstrou diferenças estatisticamente significativas de taxas de gravidez clínica e taxas de abortamentos nos grupos com fragmentação DNA menor de 15%, entre 15 e 30% e maior do que 30%.
- Um outro estudo Iraniano publicado em junho de 2020, prospectivo avaliou que não há impacto negativo da TFDna espermático na morfologia e no desenvolvimento morfocinético do embrião.
- Um estudo Chinês, observacional e retrospectivo, de Shangai na China avaliou o impacto da TFDna espermático em casais com perdas recorrentes de gestação. O estudo evidenciou maiores taxas de perdas gestacionais em casais com maior TFDna, quando estas estavam acima de 15% e mais ainda quando estavam acima de 30%.
- E o mais recente estudo, realizado na Suécia, e publicado m junho de 2021 na revista Fertility Sterility avaliou o impacto da TFDna em 2.713 casais e 5.422 ciclos a fresco e congelados. Foi evidenciado neste estudo que a TFDna espermático não afeta as taxas cumulativas de nascidos vivos quando realizado a ICSI, mas é significativamente inferior quando se realiza a FIV clássica.
Conclusão
A TFDna vem ganhando destaque nos Tratamentos de Reprodução Assistida (TRA). Há evidências de um impacto negativo da TFDna espermático nos TRA, principalmente quando está maior que 20% ou 30%, e este impacto se dá sobre o desenvolvimento embrionário, a implantação embrionária, as taxas de gestação clínica e taxas de abortamentos. Apesar disto, não há grau de recomendação elevada para indicar o exame para todos os TRA. Mais estudos prospectivos e controlados são necessários para avaliar as precisas indicações. Para pacientes com alta TFDna a ICSI tem se demonstrado na literatura como o tratamento de escola nos TRA.