Resumo para leigos
Insuficiência ovariana prematura
Você já ouviu falar em insuficiência ovariana prematura? É o termo médico usado para a conhecida “menopausa precoce”. Hoje em dia, sabe-se que essa condição nem sempre é irreversível e que algumas poucas mulheres podem manter a fertilidade e chegam até a engravidar.
A maioria das pessoas que se encontram nessa situação, não têm uma causa determinada para tal. Existem evidências que mostram relação entre a idade da menopausa da mãe ou irmã com a idade da sua menopausa. Alguns fatores ambientais e de estilo de vida, como tabagismo sedentarismo, podem influenciar nesse processo. Doenças autoimunes, cirurgias prévias e quimio ou radioterapia também podem ser responsáveis.
O primeiro sintoma relatado geralmente é alteração na menstruação, e é muito importante que você procure seu médico caso comece a apresentar essa queixa, pois é possível realizar o diagnóstico precoce e diminuir possíveis complicações futuras, como osteoporose e aumento do risco de doenças cardiovasculares; além de diminuir sintomas desconfortáveis da menopausa, como os conhecidos “calorões”, oscilação de humor, insônia e ressecamento vaginal.
Artigo para médicos
Insuficiência ovariana prematura
Autores: Marcelo Luis Pierro Saraiva, Mariana Medina de Almeida Pereira, Davi Cortes, Ariane Maria Delgado Fransozi, Alyssa Montoro Françozo Miranda e Lorena Urbanetz
Introdução
A insuficiência ovariana prematura (IOP) é caracterizada por ausência da função normal do ovário, que leva a alterações da menstruação, com oligo ou amenorreia em mulheres antes dos 40 anos de idade e aumento dos níveis de gonadotrofinas. Acomete cerca de 1% das mulheres e até 50% delas apresentam remissão espontânea, com retomada da atividade ovariana. Cinco a 10% pode evoluir com gestação espontânea. A maioria das IOP acontece por causa idiopática, mas pode haver fator genético ou autoimune envolvido. É importante que se realize o diagnóstico em momento oportuno, para evitar impacto negativo no futuro reprodutivo da mulher, além de prevenir contra doenças indesejáveis.
Objetivo
Atualizar o conhecimento sobre a insuficiência ovariana prematura.
Método
Pesquisa na base Medline através do PUBMED de trabalhos publicados.
Resultados
A insuficiência ovariana prematura é uma afecção ainda incomum, mas que devido a fatores ambientais como poluição, estresse social, adiamento da gravidez e tabagismo, vem se tornando mais frequente. Pode-se dividir a IOP em dois tipos: amenorreia primária, que tem disfunção ovariana mais severa e cursa com mais aberrações cromossômicas e fenótipos específicos; e a IOP secundária, na qual o período reprodutivo cai com rápida perda da função ovariana e há evolução para amenorreia em um a dois anos.
A etiologia da IOP ainda é de maioria idiopática, como infecções, uso de químicos tóxicos, uso de determinadas drogas ou medicamentos, deficiência enzimática, doenças metabólicas e estilo de vida (tabagismo, abuso de cafeína e álcool). Entretanto, há várias outras causas possíveis. Como causas genéticas, pode-se citar as anormalidades do cromossomo X.
Em monossomia do X, há a Síndrome de Turner: é a mais frequente e pode ser caracterizada por amenorreia primária, infantilismo sexual, pescoço alado e baixa estatura. As mulheres com essa síndrome podem conseguir engravidar, mas são gestações de alto risco por possibilidade de hipertensão arterial e dissecção ou ruptura da aorta. Em trissomia do X, há uma síndrome caracterizada por aneuploidia sexual, falência ovariana, hipertelorismo, pés chatos e pectus excavatum. Por fim, há a Síndrome do X Frágil, uma mutação que ocorre no gene FMR1 localizado no braço do cromossomo X. Clinicamente, pode ser assintomática, podendo até cursar com retardo mental. Há risco de transmissão para prole de 50%.
As possíveis causas autoimunes são: tireoidite de Hashimoto (principal), doença de Graves, doença de Addison, diabetes tipo 1, hipoparatireoidismo, lúpus eritematoso sistêmico, psoríase, doença de Crohn, vitiligo, miastenia gravis e artrite reumatoide. As causas iatrogênicas geralmente ocorrem após exposição à radioterapia ou tratamento quimioterápico, além de remoção ou dano cirúrgico ovariano. Por último, mas não menos importante, há o histórico familiar, em que caso de mãe ou irmã com IOP deve ser levado em conta, considerando-se que é mais comum a IOP acontecer em duas mulheres da mesma família.
O quadro clínico da IOP é caracterizado principalmente por oligo ou amenorreia, que pode ser primária ou secundária. Em casos mais avançados, há a possibilidade de surgirem sintomas de hipoestrogenismo, como diminuição da libido, fogachos, taquicardia, ressecamento vaginal, insônia, sudorese noturna e mudanças de humor.
A insuficiência ovariana prematura leva a uma queda progressiva de estrogênio, hormônio importante em diversos processos do corpo humano. O estrogênio auxilia na proteção óssea e na proteção cardiovascular. Com isso, sua falta traz consequências importantes, como aumento de níveis de triglicérides, levando a alteração do perfil lipídico, que propicia surgimento de aterosclerose e aumento de chances de infarto agudo do miocárdio. Além disso, também contribui para maior risco de osteoporose pelo aumento da reabsorção óssea. Outras consequências possíveis da IOP são infertilidade, síndrome do climatério e alterações na auto-estima da mulher.
Por isso, o diagnóstico há de ser feito precocemente. Deve-se realizar anamnese detalhada, buscando características do ciclo menstrual, como menarca e sintomas de menopausa precoce, interrogar sobre cirurgias uterinas prévias, doenças autoimunes, fatores familiares positivos para IOP ou infertilidade. O exame ginecológico deve buscar avaliação dos caracteres sexuais secundários, ou sinais sindrômicos que levem à suspeita de alguma patologia genética específica. O médico deve, ainda, solicitar exames laboratoriais, como FSH, LH, TSH, prolactina, testosterona total, AMH, anticorpos para doenças autoimunes (antitireoglobulina e anti-21OH ou ACA), pesquisa de pré-mutação FMR1; solicitar também cariótipo para rastreio de doenças genéticas. O diagnóstico é feito com a queixa clínica de distúrbio menstrual (oligo ou amenorreia) por mais de 4 meses e FSH>40 IU/L em duas dosagens com intervalo de pelo menos 30 dias entre elas. Solicitar também ultrassonografia, para avaliar a presença e tamanho dos ovários e possíveis alterações nos mesmos e realizar contagem de folículos antrais.
O manejo adequado é realizado por meio de terapia de reposição com estrogênio preferencialmente de uso transdérmico para pacientes histerectomizadas, e com estrogênio associado à progesterona para pacientes com útero presente. Essa terapia deve ser mantida até cerca de 50 anos de idade, quando a paciente entraria na menopausa fisiologicamente. Caso a mulher não deseje engravidar, deve-se associar contracepção, pois devido aos altos níveis de FSH, não há comprovação de eficácia da TRH como contracepção em casos de IOP. Deve-se sempre estimular hábitos de vida saudáveis, como dieta, atividade física e combate ao tabagismo e uso de álcool em excesso.
A fertilidade das mulheres com IOP está comprometida. Apesar de ser possível uma gravidez, as chances são diminutas. A maior chance acontece em casos de diagnósticos precoces. Resultados de reprodução assistidas são insatisfatórios, portanto a ovodoação tem sido a maneira mais eficaz de a mulher realizar o desejo de gestar.
Conclusão
A IOP é uma afecção clínica com impactos negativos sobre a saúde da mulher, principalmente a longo prazo, no que tange à fertilidade, auto-estima, saúde cardiovascular e óssea. Por isso, o diagnóstico precoce é capaz de prevenir doenças inoportunas e até preservar a fertilidade em caso de desejo reprodutivo. É de suma importância que os sintomas sejam valorizados e a investigação realizada, a fim de diagnosticar e conduzir a IOP de maneira adequada, minimizando possíveis desfechos negativos na vida da mulher.
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