12

August

2020

Como é feito o diagnóstico e o que mudou da classificação da Doença Inflamatória Pélvica (DIP)?

‍O objetivo da avaliação inicial de mulheres com suspeita de DIP é estabelecer um diagnóstico clínico presuntivo, avaliar achados adicionais que aumentem a probabilidade desse diagnóstico e avaliar outras causas potenciais de dor pélvica.

Introdução

Nos dias atuais, o diagnóstico da doença inflamatória pélvica é basicamente clínico, sendo que o atraso ou ainda a falta de tratamento, traz consequências graves para a paciente, impactando principalmente na sua fertilidade.

Objetivo

O objetivo da avaliação inicial de mulheres com suspeita de DIP é estabelecer um diagnóstico clínico presuntivo, avaliar achados adicionais que aumentem a probabilidade desse diagnóstico e avaliar outras causas potenciais de dor pélvica.

Métodos

Pesquisa de estudos na base Medline, por intermédio do PubMed e UpToDate.O diagnóstico clínico da DIP é impreciso devido à sua variabilidade sintomatológica. Adicionar critérios aumentam a especificidade, porém reduz a sensibilidade quanto ao diagnóstico.O tratamento empírico deve ser feito em mulheres jovens e sexualmente ativas ou com fatores de risco para DST, diante de um ou mais dos seguintes critérios, desde que excluídas outras possibilidades patogênicas senão a DIP: dor à mobilização cervical, dor abdominal ou pélvica, dor a palpação de anexos.A sensibilidade do diagnóstico clínico é de 65 a 90%, mas devido a influência negativa na fertilidade, se o tratamento for atrasado ou não realizado, acarretará sequelas graves.Os critérios utilizados para aumentar a especificidade diagnóstica são: temperatura oral >38,3° C, descarga cervical ou vaginal mucopurulenta, presença abundante de leucócitos em microscopia de fluido vaginal, hemossedimentação elevada, proteína C reativa aumentada, exame laboratorial positivo para N. gonorrhoeae ou C. trachomatis. Alguns critérios específicos para DIP também são utilizados, como: biópsia endometrial evidenciando endometrite; ultrassonografia transvaginal ou ressonância magnética mostrando espessamento das tubas com ou sem líquido livre pélvico e/ou complexo tubo-ovariano com doppler sugestivo de infecção pélvica (ex.: hiperemia tubária); anormalidades laparoscópicas sugestivas de DIP a partir de critérios mínimos como hiperemia e edema pronunciados das tubas uterinas e exsudato viscoso na superfície tubária.Classificação Clínica das DIPs:  Forma leve como aquela em que apenas os anexos estão espessados e dolorosos ao toque; Formas moderadas apresentam envolvimento do peritônio pélvico e repercussões de infecções sistêmicas; e as Graves associam-se a comprometimento peritoneal difuso, manifestações sistêmicas (náuseas, vômitos ou febre alta) e abscessos tubo-ovarianos.Classificação Clínico-Laparoscópica de DIP – Foi proposta uma classificação para individualizar as fases de doença e os níveis de comprometimento das diversas estruturas. Esta classificação necessita da conjunção dos elementos clínicos e laparoscopia, sendo pouco utilizada atualmente. É dividida nos seguintes estágios: a) estágio I: endometrite/salpingite sem peritonite; b) estágio II: salpingite aguda com peritonite; c) estágio III: salpingite aguda com oclusão tubária ou abscesso tubo- -ovariano; d) estágio IV: abscesso tubo-ovariano roto. Lembrando que acima do estágio I, o tratamento deve ser feito a nível hospitalar.

Conclusão

Muitos estudos indicam que episódios repetidos de doença inflamatória pélvica pioram acentuadamente os resultados reprodutivos. É importante notar que o atraso no tratamento, está fortemente associado a piores resultados a longo prazo. Ainda não está claro por que o resultado a longo prazo da doença inflamatória pélvica tratada permanece ruim, dadas as altas taxas de resposta clínica. Talvez danos induzidos por infecção nas trompas já ocorreram no momento do tratamento. Esta observação, juntamente com as frequentes ocorrências de doença inflamatória pélvica subclínica, destacaram a importância de reconhecer a prevenção da doença inflamatória pélvica como uma grande prioridade de saúde pública.A alta prevalência de infecções cervicais atribuíveis a C trachomatis ou N gonorrhoeae , bem como a vaginose bacteriana, juntamente com a ocorrência frequente de DIP subclínica em mulheres, resulta em uma grande proporção de mulheres jovens com risco substancial de infertilidade. Estratégias para controlar a disseminação de C trachomatis e N gonorrhoeae juntamente com os esforços para melhorar a detecção e o tratamento precoces da cervicite clamídia e gonocócica e da vaginose bacteriana, podem reduzir o desenvolvimento de DIP subclínica e proteger a fertilidade dessas mulheres.

Referências bibliográficas

  1. Brunham RC, Gottlieb SL, Paavonen J. Pelvic inflammatory disease. N Engl J Med 2015; 372:2039.
  2. Ross J, Guaschino S, Cusini M, Jensen J. 2017 European guideline for the management of pelvic inflammatory disease. Int J STD AIDS 2018; 29:108.
  3. ACOG Committee Opinion No. 754: The Utility of and Indications for Routine Pelvic Examination. Obstet Gynecol 2018; 132:e174.
  4. Workowski KA, Bolan GA, Centros de Controle e Prevenção de Doenças. Diretrizes de tratamento de doenças sexualmente transmissíveis, 2015. MMWR Recommend Rep 2015; 64: 1.

Resumo para leigos

Qual impacto da doença inflamatória pélvica na fertilidade?

A doença inflamatória pélvica, também chamada de DIP, é uma infecção que afeta o sistema reprodutivo da mulher. Essa infecção pode ocorrer por meio de contato com as bactérias – clamídia e gonorreia - após a relação sexual desprotegida. A DIP é considerada uma das causas mais comuns para a infertilidade feminina, além de ocasionar outros problemas como gravidez nas trompas (ectópica) e dor pélvica crônica. O tratamento presuntivo para DIP poderá ser iniciado em mulheres jovens sexualmente ativas e naquelas com risco para infecções sexualmente transmissíveis que tenham história de dor pélvica ou no abdome inferior. Quando as bactérias chegam as trompas de falópio, há alterações consideráveis no órgão. O óvulo não consegue progredir até o útero e muitas vezes o encontro com os espermatozoides não ocorre. Assim, por não serem fecundados, a gravidez torna-se inviável. Quando as trompas não ficam totalmente fechadas, o risco maior é a possibilidade de acontecer uma gravidez na trompa e em casos mais graves, o tratamento cirúrgico para a retirada de ovários ou trompas prejudicados, se faz necessário. Estudos mostram que microorganismos com clamídia e gonorreia são importantes causas evitáveis ​​de doença inflamatória pélvica (DIP) e infertilidade. Se não tratados, cerca de 10 a 15% das mulheres com clamídia desenvolverão IDP. A clamídia também pode causar infecção das trompas sem nenhum sintoma. DIP e infecção “silenciosa” no trato genital superior podem causar danos permanentes às trompas de falópio, útero e tecidos circundantes, o que pode levar à infertilidade.

Publicado por
Thais Sangalli

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