Introdução
Os tratamentos de reprodução assistida são classificados em baixa complexidade, como inseminação intrauterina (IIU) e coito programado, e alta complexidade, que engloba a fertilização in vitro (FIV). A abordagem para casais inférteis deve considerar as indicações apropriadas para evitar gastos excessivos e tratamentos não resolutivos.
Objetivo
Comparar e determinar o melhor tratamento para pacientes inférteis com indicação para baixa complexidade.
Método
Realizou-se uma pesquisa na base Medline através do PUBMED de trabalhos publicados.
Resultados
A IIU, tratamento de baixa complexidade, possui indicações específicas, como infertilidade de causa não definida, fator masculino leve, endometriose mínima, uso de sêmen de doador, impossibilidade de coito natural, casais sorodiscordantes ou distantes geograficamente. No entanto, contraindicações incluem infertilidade por doença tubária com obstrução bilateral, fator masculino grave ou endometriose grave.
Em 2013, o National Institute for Health and Care Excellence (NICE) desaconselhou a prática da IIU em indicações clássicas prévias, gerando debate. Estudos subsequentes, como o de Bensdorp et al em 2015, indicaram que a IIU combinada com estímulo ovariano controlado deve ser a primeira linha de tratamento para casais com prognóstico desfavorável para concepção natural, mas sem fator tubário ou fator masculino severo.
Um estudo randomizado de 2014 e uma pesquisa retrospectiva de 2018 compararam custo-efetividade entre IIU e FIV, evidenciando que a IIU é mais acessível financeiramente, sendo uma opção viável para casos de subfertilidade inexplicada.
Bahadur et al, em 2019 e 2020, sustentaram que a IIU deve ser a primeira linha de tratamento para a maioria dos pacientes, oferecendo maiores taxas de gravidez e sendo mais custo-efetiva que a FIV.
Conclusão
Ao comparar um único ciclo de FIV com um único ciclo de IIU, os estudos evidenciam que a FIV é mais eficaz na produção de gestação e nascidos-vivos. Entretanto, a FIV é um tratamento mais dispendioso, complexo e com maior potencial de complicações. Assim, a IIU, por ser menos custosa e fornecer taxas eficazes de gestações e nascidos-vivos, revelou-se mais custo-efetiva do que a FIV. Em centros onde as taxas de gestação com IIU superam 12,3%, realizar até três ciclos de IIU mostrou-se tão eficaz quanto um ciclo de FIV, mantendo o custo-benefício favorável para o método de baixa complexidade. Portanto, a IIU deve ser mantida como a primeira linha de tratamento para casais com subfertilidade ou infertilidade de causa não definida, reservando a FIV para casos mais graves de infertilidade.
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Resumo para leigos
Custo-benefício de tratamento de alta complexidade em paciente com indicação para baixa complexidade
Os tratamentos de reprodução assistida podem ser divididos em baixa complexidade, como coito programado ou inseminação intrauterina, e alta complexidade, como fertilização in vitro (FIV). Cada método atende a diferentes necessidades de infertilidade, sendo essencial abordar casais com uma abordagem adequada para evitar despesas desnecessárias e tratamentos ineficazes. Condições como infertilidade de causa não definida, endometriose leve, espermograma com alterações mínimas e distúrbios ovulatórios são indicativas para a inseminação intrauterina.
Em 2013, um estudo no Reino Unido sugeriu que as técnicas de baixa complexidade fossem abandonadas, pois a Fertilização in Vitro (FIV) seria muito mais eficiente e teria taxas de sucesso melhores. Desde então diversos outros trabalhos foram feitos na tentativa de detalhar melhor e entender essa "nova verdade absoluta". Com o passar dos anos, o que se verificou é que apesar da FIV efetivamente apresentar taxas de gestação superiores, quando um casal se enquadra para o tratamento de baixa complexidade, o custo e taxa de sucesso acumulado da IIU se mostra mais eficaz ao se usar a técnica indicada, e pular etapas partido partindo direto para FIV pode gerar custos extras e maior risco de complicação, que poderiam inicialmente ser evitados.