26

January

2022

Fan-positivo e conduta em falha de implantação

Avaliar a relação de FAN positivo com infertilidade e conduta.

Introdução

Uma parcela de pacientes inférteis não consegue conceber apesar de sucessivas transferências de embriões de alta qualidade. O mecanismo que leva a essa falha reprodutiva ainda não está claro. Para investigar essa falha, vários pesquisadores se concentraram na associação entre fatores autoimunes e o resultado de Fertilização in vitro (FIV) / Injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), e o foco foi especialmente direcionado aos autoanticorpos¹. Estudos sugeriram que anticorpos antinucleares poderiam prejudicar a qualidade do oócito e o desenvolvimento embrionário reduzindo as taxas de gravidez e implantação¹’²’³. Além disso, ensaios clínicos também mostram resultados positivos com uso de drogas que possam melhorar os resultados em gestação em pacientes FAN positivo ³.

Objetivo

Avaliar a relação de FAN positivo com infertilidade e conduta.

Métodos

Pesquisa de estudos na base Medline, por intermédio do PubMed.

Resultados

  • Zhu Q. em 2013 comparou pacientes FAN + com FAN – mostrando a ideia de que as pacientes FAN - apresentam maiores taxas de oócitos em metáfase II, gravidez clínica e implantação. Além disso, estudou os efeitos da terapia adjuvante de prednisona e aspirina em baixa dose em mulheres com FAN positivo mostrando benefício em embriões de alta qualidade e taxa de implantação aumentada em comparação com pacientes FAN positivo sem a terapia¹.
  • Em 2015, Ying Li destaca que um sistema imunológico desequilibrado pode comprometer a composição das células embrionárias por ativação da autoimunidade, e como o FAN pertence a um grupo de anticorpos associado às composições do núcleo, suspeita-se que este fator tem uma razão imunológica para o insucesso da implantação². Em seu estudo, observou que pacientes FAN positivo apresentaram menores taxas de implantação e gravidez clínica em comparação com pacientes FAN negativo. Apresentou também, assim como outros estudos, resultados melhores no número de embriões disponíveis, oócitos recuperáveis e na taxa de aborto espontâneo precoce quando títulos de FAN eram altos em comparação com títulos mais baixos²᾽³᾽⁴᾽⁵.
  • Entretanto, o tratamento para mulheres com FAN positivo é controverso. Embora alguns estudos reportem que poderia haver uma melhora nos resultados reprodutivos em pacientes inférteis FAN positivo com uso de drogas como glicocorticóide ou corticóide associado a aspirina, existem vários pontos de vista quanto à medicação, momento do início do tratamento, dosagem e período de tratamento. E outros estudos mostraram que nenhum tipo de tratamento mostrou diferença nos índices de gravidez comparando pacientes FAN positivo com FAN negativo. Jiao Fan, 2016 realizou estudo avaliando o uso de prednisona e aspirina em pacientes com FAN positivo observando melhores resultados em índice de fertilização, gravidez e implantação, além de maiores índices de aborto em pacientes FAN positivo que não fizeram o tratamento³. O momento ideal de início do tratamento sugerido pelo estudo foi definido em 3 meses antes da indução da ovulação, visto que esse seria o período de desenvolvimento de folículos pré-antral a antral³.
  • Como o efeito da autoimunidade na reprodução humana permanece controverso, em 2019 uma metanálise elegendo 11 estudos comparou pacientes inférteis FAN positivo com FAN negativo, mostrando também maiores índices de gravidez, de implantação e menores índices de abortamento precoce recorrente em pacientes FAN negativo submetidas a tratamento com FIV / ICSI⁵, porém mostrou que a titulação de FAN não afetam os resultados da gravidez. Assim como outros estudos, sugere a possibilidade de melhora nos resultados de índices de implantação e gravidez clínica com tratamento com glicocorticoide e aspirina, mas ressalta que mais estudos controlados e randomizados são necessários para confirmar as conclusões desse estudo.

Conclusão

O efeito da autoimunidade e a conduta na presença do fator antinuclear permanece controversa. A maioria dos ensaios clínicos concorda que a presença de FAN no soro da mulher tenha uma ação prejudicial na qualidade oocitária e embrionária, capaz de influenciar negativamente nas taxas de gravidez clínica e implantação, porém o número da titulação não parece ter efeito nos resultados. O tratamento com prednisona associado a aspirina parece obter bons resultados gestacionais em pacientes FAN positivo, porém é necessário maiores ensaios clínicos randomizados controlados para estabelecer protocolos de investigação e conduta.

Referências bibliográficas

  1. Zhu Q, Wu L, Xu B, Hu MH, Tong XH, Ji JJ, Liu YS. A retrospective study on IVF/ICSI outcome in patients with antinuclear antibodies: the effects of prednisone plus low-dose aspirin adjuvant treatment. Reprod Biol Endocrinol. 2013 Oct 5;11:98. doi: 10.1186/1477-7827-11-98.
  2. Li Y, Wang Y, Ma Y, Lan Y, Jia C, Liang Y, Wang S. Investigation of the impact of antinuclear antibody on the outcome of in vitro fertilization/intracytoplasmic sperm injection treatment. Taiwan J Obstet Gynecol. 2015 Dec;54(6):742-8. doi: 10.1016/j.tjog.2015.09.001.
  3. Fan J, Zhong Y, Chen C. Combined treatment of prednisone and aspirin, starting before ovulation induction, may improve reproductive outcomes in ANA-positive patients. Am J Reprod Immunol. 2016 Nov;76(5):391-395. doi: 10.1111/aji.12559. Epub 2016 Sep 13. PMID: 27618792.
  4. Na YCB, Asif S, Raine-Fenning NJ. Is there evidence to support serum antinuclear antibodies testing in women with recurrent implantation failure undergoing in vitro fertilization? Hum Fertil (Camb). 2017 Dec;20(4):224-226. doi: 10.1080/14647273.2017.1306657. Epub 2017 Mar 30. PMID: 28355952.
  5. Zeng M, Wen P, Duan J. Association of antinuclear antibody with clinical outcome of patients undergoing in vitro fertilization/intracytoplasmic sperm injection treatment: A meta-analysis. Am J Reprod Immunol. 2019 Sep;82(3):e13158. doi: 10.1111/aji.13158. Epub 2019 Jul 2. PMID: 31206895.

Resumo para leigos

Fan positivo e conduta em falha de implantação

Alguns casais não conseguem conceber mesmo após sucessivas transferências de embriões de boa qualidade. Diversos estudos tentam encontrar uma causa para o insucesso do tratamento nestes casos. Um dos principais focos das pesquisas são as doenças auto-imunes, onde o corpo cria anticorpos contra ele mesmo. O exame para investigar doenças auto-imunes é o FAN (fator antinuclear).Um desequilíbrio do sistema imunológico pode comprometer tanto a formação do embrião quanto a implantação do mesmo dentro do útero. Os estudos mostram que pacientes com FAN positivo tem menores taxas de gravidez quando comparadas com pacientes FAN negativo.Diante disso, as pesquisas tentam encontrar tratamentos para aumentar a chance de gravidez nas pacientes portadoras de auto anticorpos. Os corticóides e o ácido acetilsalicílico parecem ter resultados promissores, mas ainda necessitam de mais estudos à respeito.

Publicado por
Ana Gabriela Puel

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Antônio José Ribeiro Filho

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Camille Vitoria Rocha Risegato

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