26

January

2022

Implicações adversas no uso de progesterona para evitar o pico de LH

‍Avaliar as implicações adversas do uso de progestágenos como bloqueador hipofisário em pacientes submetidas à fertilização in vitro.

Introdução

Sabe-se que a progesterona produzida pelo corpo lúteo é um potente inibidor da secreção de LH mediada pelo GnRH e pelo feedback positivo do estradiol lúteo. E que progestágenos sintéticos inibem fortemente a secreção hipofisária de LH. A estimulação ovariana com uso de progestágenos (PPOS) para bloqueio hipofisário foi inicialmente proposta em 2015 e vem sendo cada vez mais utilizada em técnicas de Fertilização in vitro (FIV) e consiste na administração oral de progesterona exógena, como medroxiprogesterona acetato (MPA) ou didrogesterona (DYG), no início da fase folicular, juntamente com a gonadotrofina.

Objetivo

Avaliar as implicações adversas do uso de progestágenos como bloqueador hipofisário em pacientes submetidas à fertilização in vitro.

Método

Revisão bibliográfica utilizando a base de dados Pubmed e plataforma UpToDate®.

Resultados

Metanálises mais recentes1,2 mostraram que a duração da estimulação ovariana, consumo total de gonadotrofina e produção de oócitos foram semelhantes com progestágenos e análogos de GnRH. O protocolo PPOS produz mais embriões obtidos e endométrio mais espesso, com menor taxa de Síndrome de hiperestimulação ovariana e igual taxa de nascidos vivos1. No entanto, as análises de sensibilidade sugeriram que os progestágenos foram associados a consumo de gonadotrofina significativamente maior do que o protocolo de agonista curto de GnRH2. Apesar do custo mais baixo dos progestágenos do que os análogos do GnRH, a criopreservação obrigatória de todos os embriões seguida por uma transferência adiada pode aumentar o custo por nascimento com progestágenos2. Estudo de coorte com pacientes de baixo prognóstico, de acordo com os critérios POSEIDON, demonstrou que o ciclo de recuperação de oócitos e a taxa de nascidos vivos foram maiores com o uso de antagonista de GnRH do que com o uso de PPOS3.

Em relação aos resultados perinatais, um estudo de caso-controle4 relatou uma frequência maior de doença cardíaca congênita no grupo com o uso de DYG no primeiro trimestre da gravidez. No entanto, no uso de DYG ou outros progestágenos como bloqueador hipofisário em FIV, nenhum dano importante foi observado em termos de malformações congênitas e baixo peso ao nascer em comparação com os protocolos curtos de GnRH5,6.

Conclusão

As evidências atuais sugerem que não há implicações adversas significativas do uso de progestágenos como bloqueador hipofisário em FIV quando comparado ao uso de análogos de GnRH em relação à duração da estimulação ovariana, consumo total de gonadotrofina e produção de oócitos. Em comparação ao protocolo de agonista curto de GnRH, progestágenos foram associados a consumo de gonadotrofina significativamente maior. Pacientes com baixo prognóstico segundo critérios de POSEIDON apresentaram ciclo de recuperação de oócitos e taxa de nascidos vivos maiores com o uso de antagonista de GnRH do que com o uso de PPOS. Criopreservação obrigatória de todos os embriões seguida por uma transferência adiada pode aumentar o custo por nascimento com os progestágenos.

Referências

  1. Cui L, Lin Y, Wang F, Chen C. Effectiveness of progesterone-primed ovarian stimulation in assisted reproductive technology: a systematic review and meta-analysis. Arch Gynecol Obstet. 2021 Mar;303(3):615-630. doi: 10.1007/s00404-020-05939-y. Epub 2021 Jan 12. PMID: 33433705; PMCID: PMC7960625.
  2. Ata B, Capuzzo M, Turkgeldi E, Yildiz S, La Marca A. Progestins for pituitary suppression during ovarian stimulation for ART: a comprehensive and systematic review including meta-analyses. Hum Reprod Update. 2021 Jan 4;27(1):48-66. doi: 10.1093/humupd/dmaa040. PMID: 33016316.
  3. Zhang S, Yin Y, Li Q, Zhang C. Comparison of Cumulative Live Birth Rates Between GnRH-A and PPOS in Low-Prognosis Patients According to POSEIDON Criteria: A Cohort Study. Front Endocrinol (Lausanne). 2021 Jun 21;12:644456. doi: 10.3389/fendo.2021.644456. PMID: 34234739; PMCID: PMC8256850.
  4. Zaqout M, Aslem E, Abuqamar M, Abughazza O, Panzer J, De Wolf D. The Impact of Oral Intake of Dydrogesterone on Fetal Heart Development During Early Pregnancy. Pediatr Cardiol. 2015 Oct;36(7):1483-8. doi: 10.1007/s00246-015-1190-9. Epub 2015 May 15. PMID: 25972284.
  5. Zolfaroli I, Ferriol GA, Mora JH, Cano A. Impact of progestin ovarian stimulation on newborn outcomes: a meta-analysis. J Assist Reprod Genet. 2020 May;37(5):1203-1212. doi: 10.1007/s10815-020-01755-0. Epub 2020 Mar 25. PMID: 32215824; PMCID: PMC7244671.
  6. Huang J, Xie Q, Lin J, Lu X, Wang N, Gao H, Cai R, Kuang Y. Neonatal outcomes and congenital malformations in children born after dydrogesterone application in progestin-primed ovarian stimulation protocol for IVF: a retrospective cohort study. Drug Des Devel Ther. 2019 Jul 26;13:2553-2563. doi: 10.2147/DDDT.S210228. PMID: 31440037; PMCID: PMC6667350.

Resumo para leigos

Desvantagens do uso da Progesterona na Reprodução Humana

Pacientes que enfrentam dificuldades para engravidar naturalmente e recorrem a medicamentos para indução da ovulação, especialmente para técnicas de fertilização in vitro, frequentemente utilizam uma variedade de medicamentos, incluindo os Agonistas de GnRH, essenciais para uma indução adequada. Desde 2015, estudos têm explorado o uso da progesterona, uma opção oral de menor custo, como alternativa a essas substâncias. Contudo, há desvantagens no uso dessas progesteronas?

As pesquisas atuais indicam que não há implicações adversas significativas do uso de progesteronas nessas situações, seja na duração da estimulação ovariana e no consumo total de outros medicamentos, ou mesmo no número total de óvulos captados dos ovários. No entanto, em pacientes específicas, principalmente aquelas com prognóstico mais desfavorável para a gravidez, essas medicações podem ser menos efetivas do que as tradicionalmente utilizadas. Outra desvantagem é que, apesar de ser mais barata, o uso dessas substâncias exige que os embriões sejam congelados e não possam ser transferidos imediatamente, o que pode aumentar o custo médio do processo de fertilização. Entretanto, nas pacientes que já optariam pelo congelamento, os custos totais podem ser menores do que em outras situações.

Publicado por
Ana Paula Cavalari

Publicado por
Edilberto Pereira

Publicado por
Zoila Medina

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