27

May

2019

Hiperprolactinemia e Infertilidade

‍Compreender os mecanismos fisiopatológicos entre hiperprolactinemia e infertilidade.

Introdução

A prolactina é um hormônio que induz e mantem a lactação mamária. Entretanto, a hiperprolactinemia não relacionada a gestação pode ser causada fisiologicamente por estresse, exercícios, sono, coito; induzida por medicamentos: antidepressivos, anti-histamínicos, neurolépticos, bloqueadores de receptores da dopamina, entre outros. As causas patológicas são: trauma (torácico), cirurgia, macroprolactinemia, prolactinoma, hipotireoidismo, doença do ovário policístico). (1)A dosagem de prolactina sérica faz parte da investigação em casos de infertilidade. Estima-se que a hiperprolactinemia está presente em 15% a 20% das mulheres em avaliação para infertilidade. Também está presente em 40% das pacientes com hipotireoidismo primário e 30% dos casos de Síndrome dos Ovários Policísticos. (2) (4)

Objetivo

Compreender os mecanismos fisiopatológicos entre hiperprolactinemia e infertilidade.

Método

Realizada pesquisa de estudos na base Medline, por intermédio do Pubmed, no período de 2011 a 2018.

Resultados

Níveis acima de 20-25 mcg/L sugerem hiperprolactinemia. Acima de 250 mcg/L deve-se pensar em prolactinomas (desde que excluídas causas farmacológicas). (1) (4)Quando ocorre uma secreção aumentada de prolactina, ela pode agir no hipotálamo em neurônios aferentes e diminuir a secreção e pulsatilidade do GnRH, o que reflete na frequência e amplitude de secreção do LH. LH diminuído é responsável por insuficiência de fase lútea (presente em 3% a 10% dos casos de infertilidade) e ciclos anovulatórios. Além disso, os receptores de prolactina estão presentes também nos ovários e as sínteses de estrogênio e progesterona diminuem quando células ovarianas são expostas a concentrações suprafisiológicas de prolactina. (1) (2) Como resultado, pode ocorrer uma dificuldade de implantação embrionária porque o endométrio não está receptivo.Recentemente, descobriu-se um elo adicional entre hiperprolactinemia e infertilidade. A Kisspeptina é um neuropetídeo codificado pelo gene Kiss1, encontrado no hipotálamo (núcleo arqueado e núcleo periventricular) e é um potente estimulador da secreção de GnRH, de importância crítica para a maturação na fase puberal e regulação da função reprodutiva (3). Os neurônios da kisspeptina possuem receptores para prolactina. A hiperprolactinemia, além de induzir hipogonadismo hipogonadotrófico agindo diretamente no eixo hipotálamo-hipófise-gônadas, age também na supressão da kisspeptina, o que reduz a liberação de GnRH.Por isso, torna-se importante o diagnóstico oportuno para estabelecer um tratamento eficaz. Os objetivos do tratamento visam: redução dos níveis de prolactina, restabelecimento da função gonadal (principalmente hipoestrogenismo), restabelecimento da fertilidade e, em casos de macroprolactinomas, reduzir o volume tumoral e sintomas compressivos.Deve-se, então, afastar causas medicamentosas, patológicas ou fisiológicas. Após isso, deve-se proceder à investigação por técnicas de imagem, sendo a Ressonância Magnética de hipófise o método de eleição. O tratamento farmacológico utiliza agonistas dopaminérgicos, como cabergolina e bromocriptina. A cabergolina é a droga de escolha por apresentar menos efeitos colaterais e forte efeito inibitório sobre a secreção de prolactina (posologia: 0,5mg uma ou duas vezes por semana, via oral, com posterior ajuste, sendo o tempo dependente também da resposta baseado nos níveis PRL). Deve-se dosar prolactina sérica 1 a 2 meses após tratamento e solicitar nova RNM 1 a 2 anos após. Atentar-se para perda óssea quando o hipoestrogenismo é prolongado (4), pois a mesma pode não ser revertida com a normalização dos níveis de prolactina. (1).

Conclusão

A prolactina participa da regulação do eixo hipotálamo-hipófise-gônada. Hiperprolactinemia é uma causa bem estabelecida de amenorréia e infertilidade. O diagnóstico e tratamento eficaz traz benefícios para restauração da fertilidade e redução de tamanho tumoral. A dosagem de prolactina deve fazer parte da investigação de causas de infertilidade do casal.

Referências bibliográficas

1) Shlomo Melmed, Felipe F. Casanueva, Andrew R. Hoffman, David L. Kleinberg, Victor M. Montori, Janet A. Schlechte, and John A. H. Wass. Diagnosis and Treatment of Hyperprolactinemia: An Endocrine Society Clinical Practice Guideline. J Clin Endocrinol Metab, February 2011, 96(2):273–288

2) Amal Shibli-Rahhal, MD, Janet Schlechte, MD. Hyperprolactinemia and Infertility. Endocrinol Metab Clin N Am 40 (2011) 837–846

3) Ursula B. Kaiser, MD. Hyperprolactinemia and infertility: new insights. J Clin Invest.2012;122(10):3467–3468.

4) Febrasgo, 2018. A hiperprolactinemia no consultório do ginecologista: como e quando o tratamento medicamento é indicado?

Publicado por
Luciana K Nacano

Publicado por
Thaissa Mazina Smaniotto Marin

Publicado por
Marise Samama

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