Cerca de 40% dos casos de infertilidade conjugal são decorrentes de fatores femininos. 25% a 35% são de causa tubária, sendo o principal tratamento a fertilização in vitro (FIV). Hidrossalpinge e gravidez ectópica estão entre as principais causas de salpingectomia uni ou bilateral em mulheres em idade reprodutiva.
É sabido que a salpingectomia profilática melhora as taxas de gravidez em mulheres com hidrossalpinge e lesão tubária grave secundária a gravidez ectópica com indicação para Fertilização in Vitro (FIV). Mas até que ponto a cirurgia tubária pode interferir na integridade e função ovariana?
A vascularização ovariana é fornecida pelas artérias ovarianas e uterinas que estão próximas às tubas uterinas e mesossalpinge. Portanto, uma cirurgia nessa topografia pode prejudicar a vascularização e a função ovariana sem necessariamente interferir na sua reserva. Um dos critérios usados nesses estudos para avaliação da reserva ovariana são os níveis de Hormônio AntiMulleriano (AMH) que se mantém constante durante a fase reprodutiva da mulher.
Então diferente da função, a reserva ovariana aparentemente se mantém preservada mesmo após a remoção tubária.
Para leigos
Para que ocorra a gravidez espontânea é necessário que a função tubária esteja preservada, uma vez que a fertilização e o desenvolvimento embrionário precoce ocorram na tuba uterina (trompa). Alterações no funcionamento normal da tuba podem resultar em infertilidade, porém existem situações em que a retirada da tuba deve ser considerada.
A gravidez tubária, especialmente quando rompe a tuba, possui como melhor opção de tratamento é a retirada da tuba por cirurgia, assim como nos casos de hidrossalpinge (dilatação das tubas uterinas onde há acúmulo de líquido no seu interior) que pode afetar a tuba e impedir a fecundação. Casos em que foi realizada a retirada das tubas uterinas, a fertilização in vitro (FIV) passa a ser a única opção para atingir a gravidez, e a estimulação da ovulação é parte essencial do tratamento. A retirada das tubas não compromete o estoque de óvulos segundo estudos científicos, não afetando o tratamento de reprodução humana.
Objetivo
Determinar o impacto da salpingectomia na reserva ovariana.
Método
Realizada pesquisa de artigos no banco de dados da PubMed.
Resultado
Após avaliação de 04 artigos selecionados. Xu-ping Ye et al (1) avaliaram em uma análise retrospectiva que a salpigectomia está associada a diminuição do nível de AMH e aumento do FSH. Porem os demais artigos selecionados não apresentaram dados que sugerissem que a reserva ovariana fosse prejudicada após salpingectomia. Porém todos os artigos sugerem que mais estudos sejam feitos para melhor avaliação.
Xu-ping Ye (1) avaliou o efeito da salpingectomia nos níveis de AMH e reserva ovariana de 198 mulheres com idade menor que 40 anos sem comorbidades prévias, onde 83 com salpingectomia unilateral, 41 bilateral e 74 sem nenhuma cirurgia tubária selecionadas para realização de FIV. Foi observado que os níveis de FSH maior e AMH foi menor em mulheres com salpingectomia bilateral comparadas com aquelas que não realizaram cirurgia tubária.
Berfu Demir (2) realizou estudo retrospectivo multicêntrico selecionando 56 pacientes para determinar o impacto da salpingectomia unilateral na reserva ovariana. A reserva ovariana de cada ovário foi avaliada em termos da contagem de folículos antrais (AFC) no início do ciclo menstrual. Não houve diferença significativa na AFC, número de folículos ou número de oócitos recuperados entre o lado operado e o não operado.
Old Gluck MD e al (3) após estudo retrospectivo para avaliação da reserva ovariana, levando com consideração parâmetros os níveis de AMH em pacientes que submetidas a salpingectomia antes da FIV com pacientes de FIV que não foram salpingectomizadas. Os parâmetros avaliados foram níveis de AMH, hormônio folículo estimulante(FSH), contagem de folículos antrais (AFC), número de embriões transferidos (ET). Conclui que não foram observadas diferenças significativas entres os grupos, a aparentemente a salpingectomia não parece afetar a reserva ovariana em pacientes ade fertilização in vitro.
Camille Gay et al (4) após estudo caso controle com 55 pacientes comparando parâmetros ultrassonográficos de mulheres durante fertilização in vitro, que realizaram cirurgia tubária unilateral devido gravidez ectópica prévia. Concluiu-se que não houve diferença significativa na resposta ultrassonográfica ovariana à estimulação de FIV por salpingectomia unilateral.
Conclusão
Mesmo tendo em vista que a maioria dos estudos selecionados sugerem que salpingectomia não está relacionado a diminuição da reserva ovariana, mais estudos são necessários para melhor avaliação da condução dessas pacientes.
Referências Bibliográficas
- Ye X, Yang Y, Sun X. A retrospective analysis of the effect of salpingectomy on serum antiMüllerian hormone level and ovarian reserve. Am J Obstet Gynecol 2015;212:53.e1-10.
- Demir B, Bozdag G, Sengul O, Kahyaoglu I, Mumusoglu S, Zengin D. The impact of unilateral salpingectomy on antral follicle count and ovarian response in ICSI cycles: comparison of contralateral side. Gynecol Endocrinol. 2016 Sep;32(9):741-744. doi: 10.3109/09513590.2016.1161741. Epub 2016 Mar 26. PMID: 27430668.
- Gluck O, Tamayev L, Torem M, Bar J, Raziel A, Sagiv R. The Impact of Salpingectomy on Anti-Mullerian Hormone Levels and Ovarian Response of In Vitro Fertilization Patients. Isr Med Assoc J. 2018 Aug;20(8):509-512. PMID: 30084578.4. Gay C, Perrin J, Courbiere B, Bretelle F, Agostini A. Impact of salpingectomy for ectopic pregnancy on the ovarian response during IVF stimulation. J Gynecol Obstet Hum Reprod. 2019 Nov;48(9):727-730. doi: 10.1016/j.jogoh.2019.05.009. Epub 2019 May 17. PMID: 31108239.