Introdução
A espermatogênese humana consiste em um processo que envolve divisões mitóticas e meióticas, onde defeitos em qualquer etapa desse processo podem levar à infertilidade masculina 1,3,4. Em pacientes com a espermatogênese severamente prejudicada9, causas genéticas de azoospermia podem ser detectadas e incluem anormalidades cromossômicas, mutações específicas e microdeleções do cromossomo Y1,7,8,18. O braço longo do cromossomo Y humano contém uma região que agrupa genes responsáveis pela iniciação e manutenção da espermatogênese19,20,21. Essa região é conhecida como AZF (Azoospermia Factor)5, possui três sub-regiões (AZFa, AZFb, AZFc)6,9,19,23 e microdeleções nesse intervalo estão frequentemente associadas a azoospermia17, sendo a segunda causa de infertilidade masculina de origem genética23. Alguns autores relatam a existência de uma quarta região AZFd, porém outros estudos não confirmam essa hipótese24,25,26. A auto-recombinação do braço longo (Yq) do cromossomo Y possibilita a ocorrência de deleções intra-cromossômicas, que levam à variação do número de cópias desse cromossomo resultando em infertilidade1. De prevalência desconhecida, aproximadamente 10% dos pacientes com azoospermia não obstrutiva e 5% de pacientes com oligozoospermia severa apresentam essa alteração genética23,27. O manejo clínico desses pacientes tem sido um desafio para a área médica17.Objetivo: Indicação e interpretação da pesquisa de microdeleção do cromossomo Y.
Métodos
Pesquisa de estudos na base Medline, por intermédio do PubMed e Science Direct.
Resultados
Segundo COLACO & MODI (2018) há uma falta de consenso em relação à utilidade clínica do teste de microdeleções do cromossomo Y. Adicionalmente, para BEHRE e colaboradores (2015) ainda não está claro se alguns dos genes das respectivas regiões são de fato patologicamente relevantes. Entretanto, estudos de metanálise mostraram uma relação direta entre as microdeleções e o risco de infertilidade (OR = 2-2,5) 13,14,15,16. A região AZFc, foi descrita como o subtipo de deleção mais frequentemente encontrado (60-80%)17,23 em homens com azoospermia não obstrutiva ou oligoospermias severas (<1 mill/ml) e diagnóstico genético de microdeleção da região AZF, quando comparado às demais regiões AZFa (0,5-4%), AZFb (1-5%) e AZFbc (1-3%)1. Para GALEGO e colaboradores (2014) é aceitável iniciar o estudo de microdeleções do cromossomo Y quando a concentração espermática for inferior a 2 milhões/mL. Porém, a Associação Americana de Urologia28, determina o teste de microdeleção do cromossomo Y a todos os homens com azoospermia não obstrutiva ou oligospermia (5 milhões/mL). Nenhum parâmetro clínico pode ajudar a distinguir pacientes com microdeleções do cromossomo Y de homens inférteis sem microdeleção e, portanto, o rastreamento de todos os homens com oligo ou azoospermia grave e sem outras causas está indicado, já que microdeleções do cromossomo Y foram descritas em homens férteis.10, 11, 12. Além disso, acredita-se que através dessa triagem é possível prever o prognóstico de pacientes inférteis17, recomendar o aconselhamento genético9,17,27 e identificar os pacientes que poderão se beneficiar de intervenções médicas ou cirúrgicas.Conclusão: As evidências atuais recomendam a indicação da pesquisa de microdeleção do cromossomo Y para todos os pacientes com azoopermia não obstrutiva e oligoospermias severas. O resultado positivo para microdeleção possui relação direta com a infertilidade e recomenda-se que apenas pacientes portadores de microdeleções na região AZFc sejam submetidos a técnicas de recuperação de espermatozoides. O teste de microdeleção é considerado preciso, porém as terapias para essa condição ainda são insuficientes. Uma abordagem multidisciplinar é fundamental para atendimento aos pacientes com essas condições.
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