12

August

2020

Quais as mudanças no critério ultrassonográfico para classificação da Síndrome de Ovários Policísticos (SOP)? E quais as consequências desta mudança?

Apresentar o novo critério ultrassonográfico para classificação de SOP e seu impacto na prática.

Introdução

Existem vários consensos de diagnóstico de SOP, mas os critérios de Rotterdam têm sido os mais amplamente utilizados. Para o diagnóstico de SOP em mulher adulta, precisamos de dois dos três critérios a seguir: oligo e/ou amenorreia, hiperandrogenismo clínico e/ou laboratorial, ovário micro policístico em ultrassonografia. Lembrando que apesar da importância do ultrassom, ele não precisa estar presente para diagnóstico.

Objetivo

Apresentar o novo critério ultrassonográfico para classificação de SOP e seu impacto na prática.

Métodos

Pesquisa de estudos na base Medline, por intermédio do PubMed.

Resultados

Por mais que o ultrassom não seja necessário para diagnóstico, quando classificamos a SOP quanto ao fenótipo, ele precisa estar presente. Em 2012, foi recomendado o uso da classificação por fenótipos:Fenótipo A: hiperandrogenismo + disfunção ovariana + morfologia ovariana policística, Fenotipo B: hiperandrogenismo + disfunção ovariana, Fenótipo C: hiperandrogenismo + morfologia ovariana policística, Fenótipo D: disfunção ovariana + morfologia ovariana policística. Sendo que o A e B: SOP clássica – mais comum, C: SOP ovulatória, D: SOP não hiperandrogênica.Um grupo internacional, em parceria com a Sociedade Europeia de Reprodução e Embriologia (ESHRE) e a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), afirmaram que apoiavam os critérios de Rotterdam, porém os critérios ultrassonográficos precisavam ser revisados. Desde o consenso de Rotterdam, melhorias substanciais foram feitas na resolução da imagem aumentando a frequência do transdutor transvaginal. Assim, o grupo de desenvolvimento de diretrizes estabeleceu a contagem de folículo antral (CFA) para ≥20 em pacientes adultos. Essa mudança de recomendação é relevante porque a morfologia policística (MP) é o parâmetro mais comumente usado para o diagnóstico de SOP (Azziz et al., 2009; Kim et al., 2014). Nesta nova classificação, muitos estudos mostraram que as mulheres antes diagnosticadas com SOP, com base na diretriz original, foram excluídas usando o recém-recomendado critério de corte para folículos antrais. Estudo realizado na Coreia, e publicado em março de 2020, na Human Reproduction, alerta quanto a um problema no novo ponto de corte. Existe uma variação étnica substancial na expressão gênica da SOP. As mulheres do leste asiático geralmente têm hiperandrogenismo leve (HA), notavelmente, uma maior prevalência de SOP foi relatada no Leste Asiático do que em pacientes caucasianos (92,9% vs. 69,9%) (Huang e Yong, 2016). Como resultado desses dois fenômenos, o fenótipo irregularidade menstrual (IM) / morfologia policística (MP) é um fenótipo relativamente importante em pacientes do leste asiático (36,5-52,2%) (Zhang et al., 2009; Cui et al., 2013; Kim et al., 2014). Assim, a alteração do limiar da Contagem de folículos antrais pode ter um impacto muito maior nos pacientes asiáticos.

Conclusão

Em resumo, um quinto do total de adultos ou metade dos fenótipos IM / MP ou HA / MP) de mulheres com SOP foram excluídos do diagnóstico de SOP usando o limite de CFA recentemente recomendado. No entanto, essas mulheres excluídas tinham perfis metabólicos piores, eram mais androgenizadas que o grupo controle (mulheres sem diagnósticos de SOP).O fenótipo IM / MP é um fenótipo importante em pacientes do leste asiático; portanto, a alteração do limiar da CFA pode ter um impacto muito maior sobre eles. O impacto do recém-sugerido ponto de corte de CFA precisa ser avaliado em pacientes com SOP para cada etnia. Referências bibliográficas:Determinants of polycystic ovary syndrome. FertilSteril. 2016 Jul; 106 (1): 4-5. doi: 10.1016/j.fertnstert.2016.05.009. Epub 2016 26 de maio.Impact of the newly recommended antral follicle count cutoff for polycystic ovary in adult women with polycystic ovary syndrome. Hum Reprod. 27 de março de 2020; 35 (3): 652-659. doi: 10.1093/humrep/deaa012.Recommendations from the international evidence-based guideline for the assessment and management of polycystic ovary syndrome. FertilSteril. Agosto de 2018; 110 (3): 364-379. doi: 10.1016/j.fertnstert.2018.05.004. Epub 2018 Jul 19.International evidence-based guideline for the assessment and management of polycystic ovary syndrome 2018. Monash University on behalf of the NHMRC Centre for Research Excellence in PCOS, 2018. https://www.monash.edu/medicine/sphpm/mchri/pcos Síndrome dos ovários policísticos. -- São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2018. (Série, Orientações e Recomendações FEBRASGO, no.4/Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina).

Resumo para leigos

A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) afeta entre 5% e 10% das mulheres durante o período reprodutivo e é das principais causas da infertilidade feminina. Para diagnóstico, é necessário dois dos três critérios:  Presença de múltiplos pequenos cistos nos ovários ao ultrassom chamados tecnicamente de folículos antrais, e/ou volume do ovário > 10 cm³; ciclos menstruais irregulares (normalmente com intervalo muito grande entre eles); excesso de pelos em áreas tipicamente masculinas (buço, queixo, costas, tórax etc.). Algumas mulheres não têm o excesso de pelos, mas tem níveis aumentados de hormônios masculinos na corrente sanguínea. Essa também é uma característica da doença. Quanto a presença de folículos ao ultrassom, a última atualização nos mostra que ao invés de 12 folículos de 2 a 9 mm, são necessários mais de 20 folículos para fazer diagnóstico ultrassonográfico. Lembrando que não devemos solicitar o ultrassom em paciente jovens, somente após 8 anos da primeira menstruação, pois na adolescente é comum acharmos mais folículos nesta fase do que na fase adulta.

Publicado por
Thais Sangalli

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