Introdução
Com os avanços nas técnicas de reprodução humana e o surgimento da ICSI, o foco no fator masculino diminuiu, dada a eficácia na seleção espermática antes da fertilização intracitoplasmática do oócito. Contudo, mesmo com essas melhorias, taxas de insucesso persistem, especialmente quando as etiologias femininas são descartadas, destacando a importância de investigar e tratar o fator masculino quando possível.
Muitas pesquisas têm explorado a relação entre a fragmentação do DNA espermático e a melhoria na motilidade por meio do uso de antioxidantes. No entanto, a maioria desses estudos carece de análises conclusivas sobre a relação entre o uso de antioxidantes e o número de nascidos vivos ou gestações comprovadas, essenciais para fundamentar a terapia antioxidante em casos de fragmentação de DNA espermático devido ao estresse oxidativo.
O tipo de exame para analisar o estresse oxidativo na amostra seminal também está em estudo. Com diversas formulações antioxidantes no mercado, é crucial realizar estudos randomizados para estabelecer um consenso sobre a eficácia dos antioxidantes em melhorar as taxas de nascidos vivos e gestação em casos de fator masculino oxidativo, proporcionando orientação adequada aos médicos e pacientes.
Objetivos
Atualizar o conhecimento sobre antioxidantes para melhorar a fertilidade masculina.
Método
Pesquisa na base Medline através do PUBMED de trabalhos publicados nos últimos 5 anos.
Resultados
A última revisão da Cochrane, analisando 48 estudos, concluiu que a evidência para sugerir que antioxidantes poderiam melhorar a taxa de nascidos vivos em homens inférteis é de baixa qualidade. A falta de conclusões definitivas destaca a necessidade de mais estudos considerando o impacto dos antioxidantes nas taxas de nascidos vivos.
Além disso, a ausência de estudos sobre potenciais efeitos colaterais e a falta de padronização nas técnicas para inferir estresse oxidativo complicam a avaliação da eficácia e segurança dos antioxidantes.
Conclusão
A evidência disponível nos estudos publicados até hoje não é suficientemente adequada para recomendar o uso de antioxidantes na prática clínica em homens inférteis. A maioria dos estudos não demonstrou alterações significativas nos desfechos de nascidos vivos e/ou gravidez clínica (2, 4). A incerteza persiste sobre a eficácia, os tipos ideais de antioxidantes a serem utilizados e a possível presença de efeitos adversos associados ao uso indiscriminado dessas substâncias.
A falta de dados conclusivos em grandes estudos multicêntricos nas bases de dados existentes até o momento impede a recomendação do uso rotineiro de antioxidantes com forte evidência clínica em homens inférteis. Embora alguns estudos tenham indicado melhora na motilidade espermática após o uso de antioxidantes, a carência de informações em estudos robustos destaca a necessidade de uma abordagem mais abrangente e conclusiva (1, 2, 3, 4).
Bibliografia
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Resumo para leigos
Antioxidandes e infertilidade masculina
É conhecido que o esperma masculino pode ser afetado por diversas condições clínicas, incluindo o aumento de radicais livres no corpo e, consequentemente, no ambiente de produção seminal. Esses radicais livres podem causar danos oxidativos, modificando o DNA do espermatozoide, afetando sua movimentação e quantidade.
Atualmente, não existe um exame que diagnosticasse com precisão o dano oxidativo no sêmen, restando-nos o espermograma para indicar alterações nos espermatozoides, que podem ser causadas tanto pelo estresse oxidativo quanto por diversas outras razões. Além disso, não há consenso sobre o uso de antioxidantes para melhorar a qualidade espermática, nem sobre quais antioxidantes seriam os mais eficazes.
Portanto, o tratamento com antioxidantes em homens inférteis ainda não é indicado de rotina, visto que faltam dados conclusivos provenientes de grandes estudos multicêntricos até o momento.