22

November

2018

HPV e Infertilidade

‍Definir a relação entre o vírus HPV e a infertilidade feminina e masculina.

Introdução

O HPV é um adenovírus DNA de cadeia dupla e possui mais de 130 genótipos, sendo um dos patógenos mais comuns transmitidos sexualmente entre homens e mulheres, através do contato cutâneo/mucoso. Na maioria das vezes as infecções são subclínicas, com incubação média de 3 semanas a 8 meses, podendo ocorrer regressão espontânea em 10 a 30 % das mulheres acometidas em 3 meses, sendo que em 90% desses casos de regressão, o vírus é completamente eliminado. Com relação aos fatores masculinos, o HPV é mais frequentemente detectado no sêmen de homens de casais inférteis do que em casais férteis, sendo que os dois tipos virais comumente encontrados nesta população são o 16 e 56. No entanto a relação direta do HPV com a infertilidade ainda é questionada, visto que a maior parte dos estudos publicados discorrem a respeito do câncer de colo e suas lesões precursoras.

Objetivo

Definir a relação entre o vírus HPV e a infertilidade feminina e masculina.

Métodos

Pesquisa de estudos na base Medline, por intermédio do PubMed.

Resultado

Os efeitos do HPV se refletem diretamente no sêmen, com: a diminuição na contagem celular; alterações de mobilidade dos espermatozoides; redução da amplitude de deslocamento lateral da cabeça; diminuição as formas normais; e aumento do nível de anticorpo anti-espermatozóide (AAS); fazendo com que o HPV tenha uma forte relação com astenozoospermia. No entanto, a presença do vírus não anula o potencial de fertilização do espermatozoide e ainda evidências in vitro mostram esse adenovírus infectante no espermatozoide pode ser transferido aos oócitos fertilizados, blastocistos e células trofoblásticas.Quanto aos efeitos na gravidez, observa-se em células embrionárias um aumento na taxa de apoptose, interferindo no desenvolvimento do embrioblasto e nas células trofoblásticas, resultando também no prejuízo da implantação endometrial. Em casos de inseminação intra-uterina, o grupo de mulheres infectadas mostrou uma taxa de gravidez 6 vezes menos, quando comparadas a mulheres saudáveis, e nos casos de FIV, o mesmo grupo também mostrou taxas de gravidez menores (23,5 %) do que em mulheres sem HPV (57 %), embora os resultados ainda serem controversos. Com relação ao aborto, diferentes estudos não identificaram uma relação entre a infecção feminina por HPV e o abortamento precoce. Por fim, a infecção de homens e mulheres também se relaciona com a ruptura prematura de membranas ovulares e trabalho de parto prematuro.Para casais que necessitam de sêmen heterólogo, merece destaque o fato do HPV não ser testado, apesar da ampla pesquisa infecciosa. Embora o risco de transmissão ser menor do que no contato sexual, ele existe, visto que mesmo após processamento o HPV é encontrado em sua forma ativa. Na tentativa de reduzir tal risco métodos de remoção eficazes de remoção do vírus são necessários, e atualmente o principal deles é a lavagem do sêmen com a Heparinase III, mesmo que possa ocorrer uma deterioração do material. Os efeitos de um sêmen contaminado ainda vão além, com nascimento recém-nascidos e futuros adolescentes infectados, susceptíveis à infecção e aparecimento de doenças como condilomatose recorrente orofaríngea.Embora todos esses danos à infertilidade possam ocorrer, os estudos mostram que a infecção pelo HPV geralmente é transitória e poucas pacientes estão sujeitas a infecção persistente, assim como pode ocorrer uma maior depuração do vírus nos primeiros 6 meses de infecção. Esse fato é de extrema importância visto que a espera de meses pode ser uma alternativa para a melhora do sêmen em jovens, com chance de restauração dos parâmetros seminais e melhora na chance de gravidez espontânea ou a taxa de sucesso na FIV. Para casais mais velhos, que não podem esperar, é necessário recorrer à lavagem com heparinase III prévia ao método de reprodução assistida.A primeira linha de testes diagnósticos é o exame de swab peniano e PCR de sêmen para nHPV e, aa segunda linha, pode ser realizada a colposcopia para diagnóstico de lesões subclínicas e análise FISH para sêmen. O custo do teste de HPV é baixo perante o custo de uma FIV, portanto a maioria dos trabalhos sugerem benefícios deste para o processo de reprodução, preconizando o teste para casos de: astenozoospermia idiopática, AAS, infertilidade sem causa aparente, história médica positiva para doenças relacionadas a HPV e evidências de infecção por HPV em curso, em particular em doadores de sêmen e nos que irão realizar FIV. Outra questão ainda discutível nos casos de HPV é o custo benefício e custo-efetividade da vacinação. Estudos mostram que a vacina é eficaz na redução do tempo médio de depuração do HPV do sêmen, que pode ter um impacto revolucionário na abordagem clínica de pacientes infectados, recente ou não, como também para os pacientes inférteis elegíveis para FIV. No entanto é indiscutível orientar homens inférteis com HPV a terem relações sexual seguras, ter cuidados de higiene, evitar compartilhar toalhas e cessar tabagismo.

Conclusão

Segundo os estudos analisados, nos casais inférteis a infecção pelo HPV pode ser considerada um fator causal de infertilidade podendo estar relacionado à alterações seminais, aborto precoce e RPMO, embora o real impacto desta infecção na reprodução ainda necessite de novos estudos, assim como a análise do real benefício da vacinação em homens inférteis.

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Publicado por
Alyssa Montoro Françozo Miranda

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