Introdução
A fase lútea inicia-se aproximadamente 24h após o pico de LH e tem duração em torno de 12 a 14 dias. Após esse período, caso ocorra gestação, o corpo lúteo é responsável pela produção de progesterona até a 9ª semana de gestação, com a placenta assumindo tal função após esse período. 1,2,3 Podemos definir insuficiência lútea como a transformação inadequada do endométrio secretor resultante da produção insuficiente de progesterona.
Essa insuficiência pode ocorrer naturalmente ou como consequência de uma série de desordens, como: hiperprolactinemia, hipotireoidismo, hiperandrogenismo, estresse, exercício excessivo, obesidade, síndrome dos ovários policísticos, obesidade, endometriose e estimulação ovariana. Como consequências relacionadas à insuficiência do corpo lúteo temos o abortamento precoce e a infertilidade. Em técnicas de reprodução assistida em que se utilizam medicamentos indutores da ovulação, como as gonadotrofinas, há maiores taxas de insuficiência do corpo lúteo. Isso ocorre devido ao uso de doses elevadas de gonadotrofinas que levam ao desenvolvimento multifolicular com consequente elevada produção de estrogênio. Essa quantidade aumentada de estrogênios circulantes provoca um feedback negativo na hipófise, com diminuição dos níveis de LH, acarretando encurtamento da fase lútea e menor produção de progesterona. As principais técnicas que fazem diagnóstico de insuficiência lútea são a dosagem de progesterona, a ultrassonografia transvaginal a datação de endométrio por meio da biópsia de endométrio. Assim sendo, torna-se importante a avaliação com o objetivo de diagnóstico precoce da insuficiência lútea.
Objetivo
Avaliar as técnicas de diagnóstico de insuficiência de corpo lúteo mais utilizadas atualmente.
Métodos
Pesquisa de estudos na base Medline, por intermédio do PubMed.
Resultados
A dificuldade em diagnosticar a insuficiência lútea é evidente. Desde o estudo de Noyes, Hertig e Rock, publicado na revista “Fertility and Sterility” em 1950 a biópsia de endométrio foi considerada o exame “padrão-ouro”. Um atraso da maturação do endométrio maior do que dois dias, por meio de avaliação histológica de ao menos duas biópsias coletadas na fase lútea, geralmente entre o 21º e o 27º dias do ciclo menstrual, era considerada causa da insuficiência de corpo lúteo. Entretanto, estudos recentes demonstram que o método não é o adequado: um estudo observacional avaliando a reprodutibilidade e a acurácia da biópsia do endométrio em determinar o dia do ciclo por três diferentes histopatologistas mostrou que a biópsia do endométrio não deve ser considerada uma ferramenta válida para o diagnóstico de insuficiência de corpo lúteo, devido à baixa reprodutibilidade e incapacidade do método em discernir uma diferença de poucos dias. 6 Além disso, um recente ensaio clínico com distribuição aleatória demonstrou que a biópsia do endométrio não reflete a biodisponibilidade de progesterona e não pode ser considerada como um teste para avaliar a função biológica do corpo lúteo. Outra maneira utilizada para confirmação do diagnóstico é a dosagem de progesterona sérica na fase lútea. Níveis de progesterona abaixo de 3 ng/mL são consistentes com a fase folicular; valores acima de 6,5 ng/mL e, preferencialmente, acima de 10 ng/mL, são compatíveis com a fase lútea e confirmam ovulação. Entretanto, devido ao caráter de secreção pulsátil da liberação de progesterona, tal método também não é confiável, uma vez que os níveis séricos podem variar de 2 a 40 ng/mL em um curto período de tempo. Além disso, não há consenso no valor mínimo de progesterona sérica que avalie a função lútea.9 Já um estudo recente, de 2019, acena para a possibilidade da utilização de ultrassonografia transvaginal com doppler, 2D ou 3D, na avaliação da função do corpo lúteo. Esse estudo evidencia que os índices de resistência e pulsatilidade do corpo lúteo são menores em gestações normais (< 0,56 e < 0,81, respectivamente), enquanto o diâmetro, o volume, o índice de vascularização, o índice de fluxo sanguíneo e o índice de fluxo sanguíneo vascularizado são maiores em gestações normais (> 14,48, > 3,89, > 21,48, > 38,99 e > 10,21, respectivamente), chegando a conclusão de que a USG-TV com doppler, 2D ou 3D pode ser utilizada para predizer desfechos gestacionais precoces pela avaliação de tais índices do corpo lúteo.
Conclusão
De acordo com os dados encontrados na literatura, ainda não há um método diagnóstico recomendado para o diagnóstico de insuficiência do corpo lúteo. Apesar de a progesterona ser importante no processo de implantação e no desenvolvimento inicial do embrião, a insuficiência do corpo lúteo como uma entidade independente ainda não foi comprovada como causa de infertilidade. O uso da dosagem de progesterona sérica e da biópsia de endométrio ainda não podem ser recomendados como métodos diagnósticos, mas a utilização da ultrassonografia transvaginal com doppler na avaliação do corpo lúteo pode predizer desfechos gestacionais precoces.
Referências bibliográficas
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Resumo para leigo
Como diagnosticar a falha da produção de progesterona para manter a gravidez?A segunda fase do ciclo menstrual da mulher é chamada de fase lútea, uma vez que um “cisto” que surge no ovário a partir do 14º dia do ciclo menstrual chamado de corpo lúteo começa a produzir a progesterona, um hormônio. A progesterona é importante para preparar a parte interna do útero para receber o embrião e também para manter a gestação. Até as 8 semanas de gestação, o corpo lúteo que produz a progesterona e, após esse período, é a placenta que assume tal função. Em algumas mulheres o corpo lúteo não produz progesterona por tempo suficiente e estas acabam abortando. Há atualmente alguns métodos para diagnóstico da insuficiência do corpo lúteo. O primeiro e há muito tempo utilizado é a biópsia de endométrio, porém estudos recentes evidenciam que este não é um método confiável. O segundo é o exame de progesterona (coletada do sangue), porém também não é um método confiável pois os níveis de progesterona variam muito até mesmo durante um só dia. O terceiro método é a avaliação do corpo lúteo por ultrassonografia transvaginal, e um estudo recente sugere que esse pode ser a melhor forma de diagnosticar a ineficiência do corpo lúteo para produzir progesterona. Portanto, mais estudos são necessários para a definição de uma forma de identificar a falta de progesterona nas mulheres, mas a ultrassonografia transvaginal pode ser o melhor método atualmente.